quinta-feira, 13 de outubro de 2011

CINEMA NÃO!



 Posted on Ter, 24 de Agosto de 2010 12:32
Cris Meloso






Cinema, não!...Foi isso mesmo que você leu!
Quando eu era jovem e o meu mundo era no “térreo”, nas ruas, eu amava ir ao cinema. Moro em São Paulo, para muitos conterrâneos, “chatos” como eu, nem precisaria explicar essa minha afirmação, tão fora do contexto desse site, mas eu vou explicar e vão ver que ser chato, nesse caso, nem é tão raro assim.
Nesta cidade, para se ir ao cinema, é preciso todo um preparo psicológico e um adiantamento de pelo menos duas horas, antes do inicio da exibição.
São quilômetros de engarrafamentos até chegar a um dos 120 shoppings espalhados na enorme cidade. Ao chegar vou ficar um bom tempo, na fila do estacionamento e mais outro bom tempo, procurando vagas, a não ser que já comece gastando 30 reais ou mais no estacionamento vip. Que leva horas para trazer o carro quando  a sessão acaba.
Para chegar ao cinema, propriamente dito, tenho que andar o shopping inteiro, subir por todas as escadas rolantes que se alternam nas pontas antagônicas de cada andar ou ficar na fila dos elevadores, que estão descendo e claro, sempre cheios.
 Ao chegar, me prostro na fila, atrás de pelo menos trinta pessoas até comprar o ingresso (compre pela internet, a mudança será só essa). Ingresso comprado e vou até a fila da pipoca, saio com um balde de pipocas frias e sem sal. Procuro o sal, já não há, o outro está lá na ponta, com a tampa ao contrário e tudo se derruba no balcão. Engulo o palavrão. Resolvido o problema da pipoca, resta equilibrar, balde e copo, bolsa e casaco e procurar no escuro uma cadeira boa, duas normalmente  e de preferência longe de crianças e adolescentes e isso eu não preciso explicar por que, não é?.
Janelas, não há, mas cabeças sim, muitas e altas. Perfumes e fedores em profusão passam de Chanel a Avon, de pipoca a cheetos de queijo e de chulé a mau hálito.
O burburinho vai aumentando enquanto o filme não começa. Muita gente acha que está sussurrando e vão assim, gritando e perdigotando, enquanto os mais afoitos correm de lá pra cá... É banheiro, é coca-cola que faltou , é a cadeira que está de braço quebrado, aquela que não abre...
Enquanto isso, meu vizinho que está acima do peso e ofegante, exalando a cebola do almoço, está com o enorme braço no descanso da poltrona, encostando-se ao meu que já abraça minha própria barriga.
Quando aquele monte de avisos e traillers acabam, você já se sente um tanto esgotada, com dor de cabeça e câimbra no braço que imóvel abraça a barriga, segura o balde de pipocas, a bolsa, o casaco a coca cola e a mão do marido ou namorado.
Mas disseram que o filme é o máximo e você com boa vontade ainda tenta se convencer disso.
Quase duas intermináveis horas respirando aquele escasso oxigênio acebolado e você ainda lá, cheio de esperança. A tela é uma beleza, enorme, nítida. O som é sempre alto demais, mas, faz parte da magia e você ainda espera pelo final, que deve ser mesmo surpreendente, já que o filme está tão parado... Um pequeno comentário no ouvido do acompanhante e pronto, ao virar-se você lê:
 THE END...
-Hã?...Acabou?...
É pessoal, desculpem-me, me empolguei... rs. Não me odeiem por isso, amo filmes, mas não os cinemas...
As decepções eu já evito há tempos aqui na minha caseira “sala de exibições”.
Para não ser tão radical, eu recomendo, aqui em Sampa, o cine Belas Artes, na Rua da Consolação, 2423. Boas salas de cinema e sempre bons filmes.
  Lá se mantém há cinco anos a exibição do ótimo:
“Medos privados em lugares públicos” do aclamado diretor francês Alain Resnais. Se não viram, vejam!
PS> Triste é o que poderá acontecer! - Estão querendo fechar esse único bom cinema de rua, que faz parte do cenário cultural de São Paulo há 43 anos, por falta de patrocínio! O que podemos fazer para ajudar?


Cris Meloso, editora na Revista Habitar Brasil/Portugal, e cinéfila de carteirinha que, como nós, Quer o Cine Belas Artes na Consolação, 2423.
Fonte: virgula
Colabore com o Quero Belas Artes.
Mande seu texto para: querobelasartes@gmail.com

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